> ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS NA ENDOMETRIOSE
A endometriose é uma doença inflamatória crônica que afeta cerca de 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva. Ou seja, a cada 10 amigas ou conhecidas sua, uma ou duas são portadoras de endometriose. Entre os diversos tipos de tratamento e controle dessa doença, um dos principais é o tratamento cirúrgico. E o tipo de cirurgia para tratar endometriose pode impactar de forma diferente na melhora dos sintomas da doença!
A cirurgia para tratar endometriose geralmente está indicada em três principais situações:
O tratamento cirúrgico da endometriose deve ser feita preferencialmente pela via laparoscópica ou robótica, que é uma cirurgia minimamente invasiva. Através de pequenas incisões no abdômen são inseridas o gás carbônico, a câmera e pinças cirúrgicas, o que permite que o cirurgião identifique e trate as principais lesões de endometriose. A laparoscopia e a robótica permitem uma precisão superior, associada a melhor recuperação pós-operatória, melhores resultados estéticos e maior preservação da fertilidade.
Muito é discutido quanto à melhor cirurgia para tratar endometriose: excisão completa das lesões, com retirada de todas as lesões, ou a excisão parcial, com a retirada de parte das lesões, deixando as mais profundas. A excisão parcial inclui também a cauterização (também conhecida como ablação ou fulguração), pois na cauterização as lesões não são completamente retiradas.
A técnica de excisão completa das lesões exige um domínio técnico superior pelo cirurgião. É preciso ter amplo conhecimento da anatomia da pelve, que é extremamente complexa. Isso irá permitir que a retirada completa das lesões de endometriose seja realizada de forma efetiva e com risco mínimo de complicações.
A excisão parcial ou cauterização das lesões por outro lado, é uma técnica muito mais simples, e que não exige tanta destreza por parte do cirurgião. O único problema é que as lesões de endometriose profunda (com mais de 5mm de profundidade) geralmente não são completamente cauterizadas, o que pode resultar no risco da paciente continuar com lesões ativas de endometriose, e consequentemente com persistência dos sintomas.
Neste artigo, trago dois estudos (1,2) que comparam os resultados dos dois tipos de técnica: excisão completa ou incompleta da endometriose (incluindo cauterização), e seu impacto na qualidade de vida, dor e recidiva da doença. Assim temos mais embasamento científico para dar suporte a um ou outro tipo de cirurgia.
O risco de recidiva de lesões de endometriose se mostrou muito diferente entre os dois tipos de cirurgia. O risco de recidiva foi de 3,9% para em 1 ano para pacientes submetidas a excisão completa, contra 35,3% para pacientes com excisão parcial (2). O tempo para a recidiva também foi diferente: cerca de 12 meses para pacientes com excisão completa e 3,5 meses para excisão parcial. Temos que considerar que para pacientes submetidas a excisão parcial que as lesões ficaram, ou seja, não podemos considerar como recidiva, e sim persistência da doença.
Tanto as pacientes submetidas a excisão completa quanto parcial mostraram melhora dos sintomas de dor. Porém, as pacientes submetidas a excisão completa apresentaram uma melhora mais importante que aquelas submetidas a excisão parcial, especialmente após o período de 12 meses de acompanhamento.
No estudo de Angioni (1) um grupo de pacientes com diagnóstico de endometriose profunda foi submetida a cirurgia excisional completa. Outro grupo, que não aceitou fazer a cirurgia completa, foi submetida a excisão parcial. Um total de 159 pacientes foram avaliadas ao longo de 1 ano após a cirurgia. As pacientes que fizeram excisão parcial (total de 79) referiram que após 6 meses da cirurgia a dor pélvica era próxima à dor que elas sentiam antes da cirurgia. Já as pacientes que fizeram excisão completa, mantiveram bons índices de melhora da dor pélvica após 12 meses.
Nesse estudo ainda foi avaliado o impacto do uso de medicação análogo agonista do GnRH para bloqueio hormonal, pelo período de 6 meses após a cirurgia. Como era de se esperar, durante o uso da medicação o quadro de dor ficou controlado no grupo de pacientes que recebeu a medicação. Mas as que tinham feito a cirurgia com excisão parcial voltaram a sentir dor após o final do efeito da medicação. Isso mostra que o principal fator que contribui para a melhora significativa da dor, e a manutenção do bem estar da paciente está relacionada a uma cirurgia excisional completa.
O estudo de Angioni (1) também avaliou o impacto na qualidade de vida após a cirurgia dessas pacientes. E o resultado foi dentro do esperado. As pacientes que foram submetidas a cirurgia excisional completa referiram uma melhora significativa da qualidade de vida, comparada às pacientes que fizeram a cirurgia parcial (p<0,001), independentemente do uso da medicação GnRHa ou não.
Sei que foram muitas informações técnicas, mas vou resumir pra vocês o que podemos concluir com esses estudos:
Por isso, se você é portadora de endometriose e sofre com dores pélvicas, atenção! Se for indicado realizar uma cirurgia, procure os cirurgiões ginecologistas que fazem cirurgia excisional completa. Essa certamente será a sua melhor oportunidade de obter uma melhora significativa das dores e qualidade de vida a médio e longo prazo. Mas procure profissionais experientes. Pois a cirurgia excisional completa também está associada a maiores riscos de complicações, principalmente se realizada por equipes inexperientes.
Referências