Mudança de Estilo de vida e Endometriose
Dra. Juliana Sperandio • ago. 28, 2020

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Qualidade de vida: palavra mágica muitas vezes que parece inatingível para quem sofre com os sintomas da endometriose. Mas, é possível. Este texto veio para te mostrar a relação entre estilo de vida e endometriose e a importância dos ajustes no estilo de vida para viver com qualidade.


Dou bastante dicas práticas no meu
Instagram (@dra.julianasperandio) sobre este assunto, caso queira se aprofundar ainda mais!


Venha comigo entender um pouco mais sobre este tema!


A endometriose é uma doença caracterizada  pela
presença de tecido endometrial fora da cavidade do útero. Existem inúmeras teorias sobre a origem da endometriose, que você pode saber mais, clicando aqui, mas nenhuma sozinha conseguiu até hoje explicar a causa da doença. Eu costumo explicar a endometriose como uma doença multifatorial e plural


  • Multifatorial:

influenciada por diversos fatores: genético, molecular, hormonal e epigenético (de causas ambientais, ou seja, relacionadas ao ambiente e aos hábitos de vida).

  • Plural:

manifesta-se em cada paciente de uma maneira específica. Por exemplo, existem pacientes com doença grau IV infiltrativa, com pouco ou nenhum sintoma. Em outros casos, pacientes com doenças superficiais podem apresentar sintomas incapacitantes. A manifestação da doença é individual e, da mesma maneira, deve ser seu tratamento.


A endometriose é correlacionada com
estresse oxidativo do corpo, inflamação em excesso e desregulação imune, apesar de não ser considerada uma doença auto-imune. A relação entre estilo de vida e endometriose entra exatamente neste ponto: adequação do estilo de vida pode modular a inflamação excessiva do corpo da paciente com endometriose. 


Isto
melhora significantemente sintomas de dor, retarda/impede a progressão da doença, auxilia na restauração da fertilidade nas pacientes subférteis e reduz a chance da necessidade de novas cirurgias para as pacientes que já foram operadas de maneira adequada previamente (com excisão completa de todos os focos da doença em extensão e profundidade). 


Além disso, os ajustes no estilo de vida podem
auxiliar no controle ou remissão de outras doenças que aparecem junto com a endometriose, como adenomiose, síndrome do intestino irritável, síndrome da bexiga hiperativa dentre outras. 

Estilo de vida e endometriose

Bom, vamos falar sobre estilo de vida e endometriose, mas afinal de contas o que é medicina do estilo de vida? É uma abordagem científica interdisciplinar que prioriza o uso terapêutico da mudança de hábitos para prevenir, tratar e, mais importante, reverter as doenças crônicas, como a endometriose.


Seus
pilares são: alimentação, manejo do estresse, exercícios físicos, qualidade do sono, qualidade dos relacionamentos, controle de substâncias abusivas.


Vou explicar para vocês, então, a relação de cada pilar do
estilo de vida e endometriose


Alimentação

O que comemos reflete diretamente na nossa energia e em todas as etapas metabólicas do nosso corpo.  Ajuste alimentar é fundamental para controle dos sintomas da endometriose e ele não precisa ser tão restritivo (igual lemos por aí), mas sim individualizado


Existem alimentos que podem
combater a inflamação em excesso (como a cúrcuma, por exemplo) e outros que podem piorar a inflamação (como gorduras saturadas, álcool em excesso, carboidratos refinados). 


De maneira geral, uma dieta à base de plantas, com alimentos orgânicos e menos processados (industrializados), com fibras, ingesta hídrica e controle de gorduras saturadas
ajuda muito no controle de sintomas


Porém, existem pacientes por exemplo que possuem
intolerância à lactose ou aos FODMAPS (classe de carboidratos que pode não ser adequadamente digeridas e causar desconforto abdominal e gases), piorando os quadros de dor. 


Ajuste alimentar pensando na saúde intestinal também é fundamental. Cada vez mais têm sido estudado o papel das bactérias intestinais para melhoria da imunidade e redução do estresse oxidativo do corpo. Tem uma live inteirinha só sobre isto no meu
IGTV do Instagram (@dra.julianasperandio), se desejar ver. 

Por isso,
individualizar a alimentação é essencial. Conhecer seus hábitos, o que gosta e o que não, carências nutricionais e realizar ajustes finos na alimentação e na suplementação é base para instituição de uma dieta saudável e factível, que possa ser consumida a longo prazo.


O acompanhamento nutricional, portanto, com profissional especializada em endometriose, se torna vital. Tem um
texto falando bastante sobre alimentação feito por nossa nutricionista Juliana Gropp e um eBook gratuito para vocês baixarem, se quiserem se aprofundar mais no assunto!

A importância do sono quando falamos sobre estilo de vida e endometriose é pouco falada, mas extremamente importante. Devemos levar em consideração não apenas  a quantidade de horas dormidas (em média, o ideal é entre 7 e 9 horas), mas também a qualidade do sono (acorda cansada? desperta muito à noite? fica improdutiva no dia seguinte?).


A falta de sono está correlacionada com a superativação de genes relacionados à inflamação do corpo e queda da imunidade. Além disso, durante o sono, liberamos hormônios específicos e a falta de sono altera esta liberação, tendo papel na evolução da doença e sintomas. 


Por exemplo, a melatonina, secretada pela hipófise, além atuar no ciclo do sono-vigília, atua como potente antioxidante e antiinflamatório. O cortisol liberado durante o sono, tem papel fundamental na regulação da imunidade. Ou seja,
alterações do sono afetam diretamente a liberação destes hormônios e consequentemente, pioram sintomas. 


Um trabalho realizado por um dos colegas ginecologistas de Campinas-SP em 2015 mostrou
relação direta entre baixa qualidade do sono e dor decorrente da endometriose. Fica a pergunta: o sono inadequado piora os sintomas e evolução da doença ou a dor da endometriose não permite que as pacientes descansem durante a noite? Na minha opinião, é um ciclo bidirecional. Um leva ao outro e vice-versa. 


Medidas práticas para higiene do sono podem ser encontradas no nosso
eBook aqui do site.


Convenci você de que cuidar do sono é central quando falamos sobre
estilo de vida e endometriose

Exercício físico

Encontrar uma atividade física que te agrade e mantê-la regularmente pode ser positivo e ajudar muito na relação entre o estilo de vida e endometriose, dessa maneira, pode promover:

  • Aumento do nível de citocinas anti-inflamatórias;
  • Redução da gordura corporal periférica, o que reduz consequentemente os níveis de estrogênio circulante, hormônio que estimula ativação dos focos de endometriose. Reduzindo o estrogênio circulante, conseguimos controlar os sintomas (inclusive, esta é uma das ações do tratamento hormonal para endometriose). Podemos fazer isso fisiologicamente, com aumento da prática de exercícios físicos e controle alimentar;
  • Liberação de endorfinas que atuam diretamente no centro do prazer cerebral, podendo inclusive atuar na modulação da percepção de dor.


O ideal é que realize 150 minutos por semana, de exercícios mesclados entre aeróbios e resistência muscular, intercalar aeróbio e musculação.


É importante ressaltar sobre ter um profissional
especializado na prática de exercícios físicos te acompanhando e sempre respeitar seu corpo. Quando iniciam a prática de exercícios, algumas pacientes podem perceber piora de dor, por aumento excessivo da mobilização da pelve “inflamada” ou da musculatura pélvica enrijecida. Respeite seu corpo e vá com calma, percebendo o que te faz bem e o que não faz. 

Manejo de stresse

Já percebeu que em períodos de maior estresse, as dores da endometriose podem piorar? O estresse é um dos pilares que mais tem papel na relação entre estilo de vida e endometriose. 


O estresse é uma
reação adaptativa evolutiva benéfica, que nos fornece ferramentas orgânicas para reagir ao “ataque” que sofremos. Ficamos prontos para luta, mental e fisicamente.


Porém, quando não conseguimos modulá-lo de maneira adequada, passamos a sofrer as consequências de um
estado de estresse crônico: aumento contínuo da liberação de cortisol, o que aumenta o estresse inflamatório do corpo, prejudica a imunidade, favorece aparecimento de doenças. Além disso, percebemos piora da qualidade do sono, distúrbios alimentares e piora da produtividade.


O manejo do estresse é pilar essencial para saúde feminina. A intenção é que aprendamos a modular os estímulos estressores, conseguindo aplicá-los de forma positiva na nossa vida, para crescimento e evolução pessoal. 


Pacientes com endometriose e que lidam negativamente com os estímulos estressores relatam
maior percepção de dor. Os trabalhos sugerem que reconhecer respostas negativas ao estresse e gerar mecanismos para lidar melhor com ele pode facilitar o desenvolvimento de hábitos saudáveis, promovendo saúde e bem estar. Isso evita que haja supressão excessiva de emoções negativas.


Sugestões de práticas benéficas:  yoga, técnicas de mindfulness e respiração, terapia cognitivo comportamental. A prática de Yoga com algumas posturas específicas que melhoram o fluxo sanguíneo pélvico e promovem relaxamento da musculatura lombar foi correlacionada com melhoria da dor em pacientes com endometriose. 


No nosso
eBbook, você encontra dicas de exercícios respiratórios para manejo do estresse que pode praticar em qualquer lugar e com facilidade. Vale tentar.

Qualidade dos relacionamentos

Já teve a sensação de que, quando compartilha um pouco das suas dores com alguém (principalmente se for algum que passou por elas), se sente melhor? Mais leve? 


Pouco falado, mas de extrema importância para entendermos a relação entre
estilo de vida e endometriose, é a conexão social. Ela é essencial para nossa resiliência emocional  (capacidade de adaptação a condições adversas).


Especialmente o suporte emocional, por meio de empatia, reafirmação e confiança, nos conduz a um estado de
segurança e otimismo, proporcionando construção de resiliência e facilitando a resolução de conflitos. 


Estar perto de pessoas que te estimulam a evoluir, te incentivam a persistir com as mudanças, que facilitam a promoção de relacionamentos de afeto, possibilita o
aumento de liberação de hormônios e citocinas que promovem bem estar e prazer, contribuindo para saúde como um todo e podendo auxiliar na melhora da dor.

Drogas/álcool em excesso

Especialmente o uso de álcool, mesmo que em quantidades moderadas, aumenta o estresse oxidativo do corpo e vemos na prática que piora os quadros de dor pélvica pela endometriose. Essencial o consumo restrito!


O estilo de vida atua no aparecimento, evolução, persistência da doença e nos sintomas.
Estilo de vida e endometriose andam juntos. Quando mais saudável seu estilo de vida, mais controlada será sua doença. Não desista de atingir a qualidade de vida e seus sonhos! Seja protagonista da sua saúde! Conte com profissionais especializados e uma equipe multidisciplinar para te ajudar. É possível viver com qualidade!

 

Referências:

 

  1. Gonçalves AV, Barros NF, Bahamondes L. The Practice of Hatha Yoga for the Treatment of Pain Associated with Endometriosis. J Altern Complement Med. 2017 Jan;23(1):45-52. doi: 10.1089/acm.2015.0343. Epub 2016 Nov 21.
  2. Kristina Arion, MD,Natasha L. Orr, MSc,Heather Noga, MA, Catherine Allaire, MD,Christina Williams, MD,Mohamed A. Bedaiwy, MD, PhD,and Paul J. Yong, MD, PhD. A Quantitative Analysis of Sleep Quality in Women with Endometriosis. JOURNAL OF WOMEN’S HEALTH Volume 00, Number 00, 2020 a Mary Ann Liebert, Inc.
  3. DOI: 10.1089/jwh.2019.8008
  4. Robert Dantzer, Sheldon Cohen, Scott J. Russo, and Timothy G. Dinan. Resilience and immunity. Brain Behav Immun. 2018 November ; 74: 28–42. doi:10.1016/j.bbi.2018.08.010.
  5. ACOG PRACTICE BULLETIN. Clinical Management Guidelines for Obstetrician–Gynecologists , NUMBER 218. Chronic Pelvic Pain

 

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