> ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS NA ENDOMETRIOSE
Endometriose é uma das doenças mais prevalentes nas mulheres em idade reprodutiva. Estima-se que entre 10 a 15% de todas as mulheres tenham endometriose, ou seja, cerca de 1 em cada 10. Atualmente é a principal causa de infertilidade de causa feminina, além da principal causa de dor pélvica nas mulheres.
E uma das coisas que mais intrigam pacientes e médicos é a seguinte pergunta: O que causa Endometriose?
Ter a resposta para essa pergunta leva a uma série de possibilidades de tratamentos para a doença. E a tratamentos diferentes que temos disponíveis na atualidade, que vão atuam nos sintomas e conseqüências da doença, mas não na causa.
Nessa revisão, irei abordar as principais teorias da origem da endometriose. Para saber mais, me acompanhe no Instagram @drtomyo !
Mas, como vocês irão perceber ao longo desse texto, a resposta não deve ser tão simples assim!
Essa é sem dúvida a teoria mais conhecida da Endometriose, proposta por Sampson em 1925. Por causa dela muitos acreditam que a menstruação é a grande vilã (e não é). Mas o que significa menstruação retrógrada? Praticamente toda mulher que menstrua tem menstruação retrógrada. Essa é a menstruação que ao invés de sair pelo colo do útero e ir em direção à vagina, volta pelas tubas uterinas e cai na pelve da mulher.
E como sabemos que praticamente toda mulher tem isso? Sempre que operamos uma mulher que está menstruada na data da cirurgia, vemos a presença de sangue na pelve e abdômen. E isso faz sentido: imagine que você tenha uma embalagem de molho de tomate (de papel ou plástico). E que nessa embalagem você faça 3 furos nas pontas: um representa a saída do colo do útero maior, e os outros dois representam as tubas uterinas, menores. Agora tente apertar essa embalagem! Não só irá sair molho pelo maior buraco, mas também pelos outros dois menores, mesmo que em menor quantidade.
Então, se praticamente toda mulher têm isso, por quê “somente” 10 a 15% das mulheres desenvolvem a doença? É aí que a teoria tem seus furos. É possível sim que para muitas mulheres com endometriose a menstruação retrógrada seja um pré-requisito para justificar a origem da doença. Mas outros fatores certamente estão associados. Essa teoria também não explica endometriose em outros locais do corpo, como pulmões por exemplo!
Essa é uma teoria mais recente, e partiu de observações de médicos patologistas de Harvard, Dr. Ober e Dr. Bernstein. Nessa observação, em cerca de 5% das bebês recém-nascidas o endométrio já responde a estímulos hormonais. Isso coincide com o fato que aproximadamente 5% das bebês femininas apresentam uma menstruação neonatal na primeira semana de vida. Essa teoria, junto à próxima teoria, justificaria casos de endometriose profunda e avançada em jovens adolescentes, que começaram a menstruar pouco tempo antes do diagnóstico.
O útero em bebês é diferente do útero de mulheres adultas. O colo do útero é bem mais longo, e isso dificulta a saída desse sangue menstrual em bebês, facilitando a menstruação retrógrada nessa fase. Essas células endometriais poderiam se implantar no peritônio, onde ficariam quiescentes (paradas) por anos. A partir da idade na qual a mulher passa a produzir hormônios estrogênios (antes mesmo da primeira menstruação), essas células que ficaram paradas, passam a se proliferar e crescer, causando inflamação e dor.
Talvez Sampson não estivesse tão errado. E que de fato a menstruação retrógrada seja uma grande responsável, mas em uma fase muito mais precoce do que ele imaginava.
A Teoria da Origem Fetal da endometriose é outra teoria que pode explicar endometriose em jovens adolescentes. Vale lembrar que jovens adolescentes não tiveram tantos ciclos menstruais para que a menstruação retrógrada proposta por Sampson pudesse justificar o quadro clínico.
Isso poderia acontecer por um “defeito” na formação dos órgãos genitais, na fase embrionária da vida humana. O útero, endométrio, tubas uterinas e ovários são formados a partir de um tecido embrionário chamado de ductos Müllerianos. Essa teoria foi proposta em 1992, e é suportada por uma série de autópsias realizadas em 36 fetos humanos femininos. Esse fetos tinham idade gestacional diferentes, e em 11% delas havia a presença de implantes endometriais em locais mais comuns da endometriose. Lembrem-se que 11% é muito semelhante a incidência de endometriose nas mulheres adultas: 10 a 15%.
Além disso, foram observados outros locais de implante endometriais nesses fetos, o que suporta a teoria de que alguns tipos de endometriose estão associados a embriogênese anormal.
Metaplasia é um fenômeno que acontece em vários locais do nosso corpo. Isso é a transformação de uma célula em outro tipo de célula, a partir de uma mudança do ambiente local. Geralmente essa transformação é transitória até certo ponto. Por exemplo: o nosso esôfago, canal que leva alimentos da boca ao estômago, não é resistente a ácidos. Quando uma pessoa tem refluxo do estômago para o esôfago, as células do esôfago podem sofrer metaplasia, pelo estímulo ácido.
E como isso poderia acontecer na endometriose? A inflamação crônica do corpo de uma mulher, somada a fatores genéticos e ambientais. A partir dessa teoria, poderia-se explicar o aparecimento de endometriose em praticamente qualquer lugar do corpo humano. Porém, ainda existem lacunas para assegurar que essa teoria seja a mais provável. Como o porquê essas lesões têm preferência por certos locais do corpo.
Apesar da metaplasia não conseguir explicar completamente a origem, esse fato acontece nas lesões progressivas de endometriose. E isso já foi comprovado. As injúrias e cicatrizações repetitivas nas lesões de endometriose induzem a transformação de células de endometriose em células musculares e fibrosas.
Sabemos que a herança genética é um dos principais fatores de risco para a Endometriose. Ter um parente de primeiro grau (mãe ou irmãs) com esse diagnóstico aumenta o risco em aproximadamente 7 a 10 vezes.
Mas, sabe-se também que não há apenas um gene que está ligado à endometriose. Mas sim, mais de 200 genes que já foram mapeados. Ou seja, a endometriose é uma doença poligênica. Por isso, inclusive tratamentos genéticos futuros terão muito mais desafios para a endometriose. Seria necessário não só editar um gene, mas talvez centenas deles!
Ainda sim, ser filha e irmã de mulheres com o diagnóstico de endometriose, e ser portadora de genes da endometriose, não garante que você também terá. E isso pode ser explicado pelo fator Epigenético da doença.
O fator epigenético é o fator genético determinado pelo ambiente. Ou seja, é como se tivéssemos vários genes no nosso DNA que funcionam como interruptores. Esses interruptores podem ficar desligados, até que algum fator ambiental (alimentação, estresse, poluição) os liguem. Ao ser ligados, aí sim vão determinar o aparecimento ou progressão das lesões. E esses fatores podem ocorrer desde a vida intra-útero de uma mulher, ou seja, mesmo antes de nascer. O fator epigenético é um dos principais fatores para doenças inflamatórias crônicas. E isso não é diferente para a endometriose. Por isso é tão importante cuidar do seu estilo de vida!
O nosso corpo tem a capacidade de reconhecer células e tecidos que não pertence a ele. Ou mesmo a capacidade de reconhecer células do nosso corpo que estão em locais inadequados. A lesão de endometriose em si é um tecido que está em um local diferente de onde deveria estar. Por algum motivo porém, o sistema de defesa (imunológico) não é capaz de conter o implante, aparecimento ou progressão das lesões no corpo da paciente com endometriose.
A nossa imunidade é controlada por diversos fatores, dentre eles alimentação, qualidade de sono, e nível de estresse. Ou seja, os mesmos fatores que podem desencadear os fatores genéticos e epigenéticos da doença.
Então, voltamos novamente à importância do estilo de vida para pacientes com diagnóstico ou mesmo fatores de risco para ter endometriose.
Por tudo o que vimos do que pode causar endometriose, fica mais fácil entender que provavelmente há várias formas na qual essa doença pode aparecer e se desenvolver no corpo de uma paciente. Isso torna o desafio de encontrar uma cura definitiva muito mais difícil, porém não impossível.
Existem fatores genéticos herdados, mas que podem ser modulados através de fatores ambientais e comportamentais. E isso está ao alcance de qualquer pessoa, contanto que estejamos conscientes, focados e engajados. Adotar hábitos de vida saudáveis é o melhor caminho não só para minimizar o impacto que essa doença causa na qualidade de vida. Mas também para evitar a recidiva em pacientes que já foram operadas, ou mesmo para reduzir o risco de passagem para gerações futuras!
Referências: