Dor na relação sexual pode ser vaginismo: o que é e como tratar
Lilian Fiorelli • 10 de fevereiro de 2016

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Por muito tempo – e até hoje em muitas culturas e religiões – a questão do prazer feminino na relação sexual foi tabu. Por isso, muitas mulheres acreditavam ser até normal sentir dor durante o ato sexual.

Felizmente, hoje em dia, as mulheres aceitam e buscam mais o seu próprio prazer. Mas, lembranças inconscientes, ou não, advindas de traumas ou da educação ainda atrapalham a libertação sexual feminina, e muitas mulheres acabam se fechando e recusando a penetração.

Para piorar, as mulheres que não conseguem se soltar e sentir prazer durante a relação sempre ouviram que isto é “frescura” ou “basta tomar uma taça de vinho para se soltar”. É o famoso “relaxa e goza”. Toda essa pressão acabava gerando mais angústia e frustração nas relações, uma vez que a dor sempre persiste. Se há dor, é porque há algo errado.

A ciência hoje descobriu que os fatores fisiológicos ou psicológicos que fazem com que a mulher impeça a penetração ou tenha uma penetração com dor é uma doença, o vaginismo. E o principal: tem cura! O vaginismo hoje é um diagnóstico de exclusão. Isto é, se a mulher não tem nenhum outro fator que provoque dor na relação – infecção urinária, endometriose, candidíase, problemas para lubrificação, entre outros – a causa da dor pode ser o vaginismo.

O vaginismo é uma contração involuntária da musculatura pélvica, que gera muita dor na penetração ou até impede qualquer tipo de penetração (seja por pênis, dedo ou qualquer outro objeto).

Na região da pelve, há um complexo de musculatura que serve como sustentação dos órgãos da região – do útero, do ovário, da bexiga, do reto. Às vezes, quando a mulher está muito tensa, ela contrai tanto esta musculatura que acaba por impedir a penetração. Conscientemente, se forem solicitadas a contrair a musculatura, muitas mulheres nem conseguem contrair da forma que o fazem durante o ato. É por isso que durante a relação impedem a penetração, mas no consultório ginecológico não conseguem reproduzir a contração.

Essa contração faz com que a vagina feche, não tem penetração ou, se tem, é à custa de muita dor e isso vira um ciclo: o fato de a mulher ter dor na penetração gera mais contração, que gera mais dor, que acaba gerando mais contração e mais dor. Com isso, ela tem, cada vez mais, um comportamento de evitar a relação sexual.

Nesta situação, o simples fato de o namorado começar a fazer um carinho, ela pensa que aquele pode evoluir para uma relação e já se afasta.

Para melhor resultado, o tratamento requer, entre outros métodos, o acompanhamento de vários profissionais: ginecologista, psicólogo e fisioterapeuta. Isto porque, o ginecologista vai identificar o diagnóstico, analisar se não há outros fatores envolvidos e acompanhar o desenvolvimento do processo; e o fisioterapeuta irá auxiliar a mulher a ter mais consciência de sua musculatura, passando assim a relaxar e a contrair a região de forma voluntária.

Uma das formas de conseguir isto é por meio de exercícios para fortalecimento do assoalho pélvico: exercício de Kegel (popularmente chamado de pompoarismo), que trabalha com a contração e relaxamento da musculatura vaginal. Ter consciência corporal e saber como o corpo funciona também são importantes. Desta forma, quando a mulher aprende a contrair voluntariamente, ela também identifica como relaxar, assim ela consegue uma penetração sem dor.

Após adquirir relaxamento, é possível usar os dilatadores vaginais, que variam de tamanhos e de espessura, com os quais a mulher vai treinando, de pouquinho em pouquinho, até o tamanho de um pênis normal, sem dor, para ela conseguir se liberar para a relação.

Também é preciso identificar e trabalhar – com auxílio de um psicólogo – as causas que geraram esse bloqueio: algum abuso sexual na infância, uma relação que foi de alguma forma forçada, a criação da pessoa, ou religião, por exemplo, são fatores psicológicos que podem induzir a mulher a desenvolver o vaginismo.

É importante que a mulher tenha consciência de que este processo pode ser demorado, assim como em um tratamento terapêutico qualquer. Tudo depende do histórico e do desenvolvimento de cada uma. A ansiedade também pode atrapalhar.

O importante é saber que tem cura, e que uma vida prazerosa é acessível para todas.

* Dra. Lilian Fiorelli é ginecologista, obstetra, e possui especializações em uroginecologia e sexualidade humana pela Universidade de São Paulo. Também é membro do Grupo Médico Assistencial do Assoalho Pélvico do Hospital Israelita Albert Einstein e do International Urogynecological Association.

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