Organização internacional publica sugestão de rotina pré-natal considerando surto de Zika vírus
Lilian Fiorelli • fev. 16, 2016

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O Brasil e o mundo se depararam nos últimos meses com mais uma ameaça à saúde da população: o Zika vírus.

A principal preocupação para as mulheres está baseada em suposta relação da doença com casos de recém-nascidos com microcefalia. Só no País, segundo dados do Ministério da Saúde, foram notificados 4.783 casos suspeitos de microcefalia sendo 404 confirmados desde o início do surto, em outubro, até o último dia 30 de janeiro. Deste total, 17 tinham ligação com o Zika vírus.

A Colômbia já tem mais de 30 mil pessoas infectadas pelo Zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Ao lado do Brasil, o país é um dos mais atingidos pelo vírus. Muitos outros países também têm apresentado casos de pessoas infectadas pelo Zika e preocupações com seus desdobramentos. Tais fatores causaram alerta em autoridades de saúde, muito embora tais associações ainda precisem ser provadas. Mas, por precaução, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência médica global no dia 1º de fevereiro em decorrência da disseminação do Zika.

Como prevenção, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (do inglês, CDC – Centers for Disease Control and Prevention), uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, publicou em 12/02/16, nova sugestão de rotina pré-natal que poderia ser adotada por pessoas de risco de infecção: que residem ou viajaram para as regiões afetadas.

Na diretriz ( http://www.cdc.gov/mmwr/volumes/65/wr/mm6505e2.htm ) do CDC recomenda-se que o Zika vírus faça parte das doenças rastreadas no pré-natal nas pacientes de risco, com testes sorológicos e ultrassonografias, assim como para as tradicionais doenças que sempre são acompanhadas no pré-natal como sífilis, toxoplasmose, rubéola, entre outras. No Brasil ainda não foram publicados protocolos específicos.

Em 15 de fevereiro, no Brasil, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o terceiro teste sorológico para detectar o Zika vírus; são testes novos e a disponibilidade destes testes em rede pública ou privada ainda é limitada. O importante é que há avanços no sentido de diagnósticos, contenção e prevenção da doença causada pelo mesmo transmissor da dengue e da febre chikungunya: o mosquito Aedes aegypti.

Ainda não há tratamento específico nem vacina contra o vírus mas a recomendação é NÃO usar ácido acetilsalicílico (AAS ou aspirina) pelo risco de hemorragia. Utilizar apenas medicamentos para alívio dos sintomas. A relação entre Zika e microcefalia foi sugerida pela primeira vez no fim de novembro pelo Ministério da Saúde brasileiro. A investigação ocorreu depois da constatação de um número muito elevado de casos de microcefalia em regiões que também tinham sido acometidas por casos de Zika.

A evidência crucial para sugerir essa ligação foi um teste feito no Instituto Evandro Chagas, órgão vinculado ao Ministério da Saúde no Pará, que detectou a presença do vírus da Zika em amostras de sangue coletadas de um bebê que nasceu com microcefalia no Ceará e acabou morrendo. Como a situação é muito recente, ainda não se sabe como o vírus atua no organismo humano, quais mecanismos levariam à microcefalia e qual seria o período de maior vulnerabilidade para a gestante.

Também se suspeita que ele esteja ligado ao distúrbio neurológico Síndrome de Guillain-Barré, uma doença rara e grave que afeta o sistema nervoso e que pode provocar fraqueza muscular e paralisia generalizada até da musculatura respiratória. Mas a ligação do vírus a esta doença ainda também não foi confirmada. Cientistas também informaram recentemente que o Zika vírus pode ser detectado no sêmen.

O trabalho dos pesquisadores é parte de uma corrida internacional para entender os riscos associados ao vírus. Por isso o uso do preservativo se faz importante inclusive na gestação. (http://www.cdc.gov/mmwr/volumes/65/wr/mm6505e1.htm). Para realmente comprovar a ligação de casos de microcefalia ao Zika vírus, muitas pesquisas ainda estão sendo realizadas e há quem defenda que uma doença não está necessariamente vinculada à outra.

Nada está provado, existem mais perguntas que respostas, e muito provavelmente ainda irá demorar até que as pesquisas cheguem a conclusões mais concretas, entretanto, levando em consideração o histórico de outros diagnósticos por vírus, é possível estabelecer que a transferência do Zika vírus da mãe para o bebê não é tão equivocada assim. Isto porque, quando a gestante tem uma infecção por vírus, estes podem cair na corrente sanguínea, e alguns deles passarem da mãe para o feto através da placenta, assim como outros agentes: bactérias, protozoários, autoanticorpos, drogas, medicamentos e hormônios. O feto tem uma capacidade muito limitada de se proteger contra as infecções, e em alguns casos a manifestação da doença no feto são as malformações.

É importante observar que nem toda infecção no feto causa alguma intercorrência ou malformação e a gravidade das interferências no feto é inversamente proporcional ao tempo de gestação, ou seja, quanto mais avançada for a gestação, menor é o risco de o feto ter alguma alteração pela doença. Mas ainda não se sabe se esta regra também vale para o Zika vírus.

As medidas de proteção seguem as mesmas para se evitar a dengue: evitar horários e lugares com presença de mosquitos, usar roupas que protejam a maior parte do corpo, usar repelentes e permanecer em locais com barreiras para entrada de insetos como telas de proteção ou mosquiteiros. E, claro, observar se em casa ou próximo aos locais que você mais frequenta não há focos de água parada.

Os sintomas incluem febre, dor nas articulações e músculos, além de conjuntivite e manchas vermelhas na pele e, de forma geral, surgem 10 dias após a picada. Além destes, também podem-se observar, com menos frequência, problemas digestivos, como dor no abdômen, náuseas, vômitos, diarréia ou prisão de ventre, aftas e coceira pelo corpo. Portanto, se sentir qualquer sintoma que possa indicar estar com o Zika vírus, é importante procurar o sistema de saúde, e, no caso das grávidas, informar ao médico sobre qualquer alteração em seu estado de saúde, principalmente no período até o quarto mês de gestação. Tudo é muito novo, o importante é que pouco a pouco estamos avançando nas investigações.

O mais importante é sempre a prevenção, que além das cautelas citadas acima, o essencial para a gestante é um bom acompanhamento pré-natal.

* Dra. Lilian Fiorelli é ginecologista, obstetra, e possui especializações em uroginecologia e sexualidade humana pela Universidade de São Paulo. Também é membro do Grupo Médico Assistencial do Assoalho Pélvico do Hospital Israelita Albert Einstein e do International Urogynecological Association.

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